segunda-feira, julho 03, 2006

A mensagem

Por vezes as mensagens cruzam-se à nossa frente e insistentemente não as ouvimos.
Pois comigo hoje consegui ouvir uma.

Já por várias vezes aquela árvore passou à minha frente e eu não liguei.
Percebi que havia ali algo, um não sei o quê, mas que não percebia o que era.
Era sempre uma árvore ali, a olhar para mim, sem nada dizer e gritando aos meus ouvidos.

Hoje ouvi - Afinal o que me queria dizer era que ela, hoje, é a mesma árvore depenada do Inverno passado.
Ela hoje, exuberante e frondosa foi a árvore fria e aparentemente débil de há poucos meses atrás.

E é este ciclo que a torna hoje tão surpreendentemente fantástica, de um verde celestial, de uma paz incomensurável, tranquila, quente.
Pois se não a tivesse visto nua, não teria reparado no seu renascer, na sua força inata.
Há que perder para ganhar.
Há que sofrer para gostar,
Há que confortar para ser amado.
Tal como um atleta necessita de trabalhar os ciclos negativos para evoluir nos ciclos positivos, a vida é composta de ondulações, de sinusoides, de ciclos.
Os negativos existem para realçar os positivos.

E esta tarde, o Plátano sorriu para mim.

terça-feira, junho 27, 2006

O reflexo do espelho

O espelho pode ser cruel quando nos vemos nele.
Podemos ver nele os nossos defeitos, a nossa incapacidade de perdoar.
O espelho é ainda mais cruel quando não sabemos que também nós somos um espelho.

A mágoa, a dor, a falta de ar e a desilusão fazem parte do espelho.
Mas também a alegria, o contentamento, o perdão e a paixão.

Sendo espelhos damos aquilo que nos dão. Literalmente. À letra.

Na Feira Popular existem vários espelhos:
Uns que pioram a nossa imagem, outros que a aumentam,
Uns que a diminuem, outros que a enfatizam.

Podemos apenas refletir o que se nos apresenta ou podemos refletir transformando.
Pegar na dor e transformá-la em alegria.

Em momentos de desconforto é por vezes difícil descobrir ou relembrar que existem em nós outros estados de alma noutros locais com outras pessoas.
Por vezes é difícil saber que temos em nós olhares de confiança para com os nossos irmãos.
Somos nós retratados em diferentes reflexos a cada pessoa que passa.
Diferentes vertentes da mesma pessoa.
Diferentes faces em diferentes lugares.
Incoerentemente coerentes.
E isto não é hipocrisia ou cinismo.
É simplesmente o espelho no seu estado mais puro.
Espelhando o meio ambiente.
Sempre.

No que me diz respeito ainda não consigo transformar o que recebo.
Sou um aprendiz. Sou um espelho simples.
Estou cá há muito pouco tempo.
Não tenho apenas 2 faces mas apenas 2 bastam para perceber que não é fácil perdoar.
A caminhada é longa.
Este é apenas mais um passo.

quarta-feira, junho 21, 2006

Enigma

Este é um enigma ou uma verdade?
Exame do intelecto ou simples perca de tempo?
Exercício da mente ou mente sem exercício?
Teêm todos um objectivo
Empapar as tramas do destino
Lentilhas à solta no prato
Tirando ou dando, existe sempre um fim.

O enigma é saber qual é o enigma, qual a verdade.
Ou se calhar saber até se existe algum enigma. Às vezes é tudo tão fácil e tão à nossa frente.
Encosta-te para trás na cadeira e reflete para descobrir o que está por detrás deste enigma.

Imagina alguém que escreve sobre algo que vai acontecer e combina com alguém para descobrir os seus escritos propositadamente 50 anos depois da nossa morte.
E juntar temperos como por exemplo: "Haverão os que quererão desacreditar estes escritos.."
E é assim que se cria um mito, uma bíblia.

Quem é que pode dizer se palavras como as de hoje nasceram para ter algum sentido?
Se calhar nunca foram para ter sentido.
Se calhar és tu desse lado que lhes vais dar sentido com aquilo que descobrires e que na realidade era o que quererias ver escrito e quando isso acontecer vais dizer... Uauu! Isto é poderoso..
Bazófias. Um enigma não passa disso mesmo. De uma bazófia...ou talvez não.

Uma coisa é certa - o mistério esconde 99% das vezes algo que na realidade não é o mais importante. Mas o mistério em si... esse sim é o interessante.

Lembras-te quando montavas cidades de Legos durante as tardes de Sábado e depois quando finalmente chegavas ao fim perdia a graça.
Ora aí está.
O mistério da vida. O mistério da fé. O desafio da viagem. A evolução - Aí é que está o gozo.

Inventar, descobrir, imaginar.
Pensar porquê, quando e como.

Pérolas para porcos

À primeira vista a expressão "Pérolas para porcos" está carregada de arrogância e de presunção.
Quem somos nós para afirmar com tanta altivez uma coisa dessas.
Um pouco de humildade é bom para limpar as vistas.
Mas uma coisa eu sei: Enquanto não conseguirmos identificar os porcos também não vislumbramos as pérolas.

Bem vistas as coisas se calhar faz sentido.
A verdade por vezes dói mas nunca deixará de ser a verdade. E quanto mais cedo se disser melhor será.

E quanto à arrogância, se calhar não é nada mais do que uma boa dose de auto-estima.

Por isso, que venham as pérolas e os porcos.
Às pérolas há que dar o valor.
Aos porcos há que cuidar.

quinta-feira, junho 08, 2006

Complete finishers

Um comentário inteligente aqui, uma interjeição pertinente ali,
Uma fotografia e um sorriso,
Vira as costas e incha o peito,
Ar sério, mas com um ligeiro sorriso.

Estou saturado de ver no mercado livreiro fórmulas de sucesso fácil.
"Como ser Mourinho em 10 lições...."

O Mourinho não é ele só.
A quem é que ele se agarrou quando venceu a final antes de ir para o Chelsea?
Quem é que lhe comprou o sobretudo?
Quem é o sadino que lhe faz as estatísticas?

Mas pronto, cá vamos iludindo o Zé Povinho com fórmulas imaginárias de sucesso fácil e casas de chocolate. Neste caso com telhados de vidro e sem fundações.

É sempre fácil interromper trabalhos de fundo para fazer show-off rápido. O futuro? Esse é de quem vier atrás para fechar a porta!

Deitem futebol e fogo de artifício ao povo.
Iludam-se com as luzes - sejam traças e não pensem no dia de amanhã. Depois logo se vê.
Quando se encontrarem a roer o chapéu percebam que a Inveja só existe resultante daquilo que se arrependeram de não fazer.

"Mas como é que ele conseguiu?" Podemos perguntar...
Simples - Um passo atrás do outro. O segredo está no seguinte: Sempre em frente. Sempre em direcção ao objectivo.

Tiger Woods, Jesse Owens, Nadia Comaneci, Daley Thompson, Lance Armstrong, Cassius Clay Jr, Sergei Bubka, Ayrton Senna, Joe DiMaggio e Mark Spitz.
Demasiada história num só parágrafo...

Digo-te meu amigo.
Precisamos de Complete finishers.

Sempre precisámos. O bom trabalho não resulta apenas de bons momentos.
Há partes mais morosas, menos cativantes.
Será que não é nessas que mais aprendemos?

Onde não gostas de estar é onde precisas de estar nesse momento.
Quando começares a gostar, evolui.

Não havia um que dizia que só estava bem onde não estava?
Para mim, hoje, as palavras do cantor estão erradas.

segunda-feira, maio 15, 2006

Vida dupla

Fiquei impressionado com a impenetrabilidade da vida pessoal do Mr Apple.
Fiquei a pensar se não seria ele que teria razão.
De um lado a vida profissional, do outro a vida pessoal.
Qualquer uma delas extremamente intensas mas totalmente distintas.
Misturar "negócios com prazer" nunca dá resultado.

Realmente começo a concordar com este senhor que consegue marcar posição face ao "monstro" da Microsoft.

É como o desligar do botão à Sexta-Feira à noite e voltar a ligar na 2ª Feira de manhã.
Só assim podemos fugir ao velho chavão "O fim de semana foi curto".

Quanto mais eficaz for o "desligar o botão" maior será o foco seja na vida profissional seja na vida pessoal.
Melhores serão os períodos de descanso e melhor será a 2ª Feira seguinte ao encarares um novo desafio.

Já agora, convido-te a começares pelas férias, depois pelos fins de semana, pelos feriados, pelas noites, pelas horas de almoço até chegares à pausa para café.

Conseguir abstraires-te totalmente por um instante para descansar....e depois, de volta à carga.

É quase como um super-heroi. Já reparaste que todos eles tinham vida dupla?
Porquê? Porque é que não existem super-heróis a full-time?

Todos necessitamos de um ninho,
Todos necessitamos de um momento.

Todos precisamos de sentir que temos algo de totalmente diferente.

Aquele pedaço de comida que deixamos sempre no final do prato para saborearmos no fim.

quinta-feira, maio 11, 2006

Desconforto vs Curiosidade

Quando perdemos é que damos o valor. Porquê?

Julgo que a nossa mente está condicionada a este padrão comportamental porque somos uma espécie altamente adaptativa.
Posto isto, agimos instintivamente procurando novos desafios e estímulos, por vezes sem chegar a aproveitar o que realmente temos.
Apetece-nos simplesmente pular para outro degrau sem perceber a escada onde estamos.

Este instinto não é mau. É muito bom.
Foi ele que fez descobrir o fogo e é ele que faz evoluir. É preciso é ter bem consciência do que por vezes encontramos e do trabalho que é necessário fazer até ao próximo estágio.

Curiosidade - vontade de conhecer coisas novas - Novas realidades.
A nossa evolução está baseada no pilar da curiosidade.
Então porquê estagnar? Será isso que nos dá conforto? O que é o conforto e como é que isso se reflete em felicidade?

Em culturas antigas praticavam-se rituais de desconforto com o objectivo de "empurrar" o nosso espírito para outros níveis de consciência. No fundo obrigar a nossa mente a escapar para outras realidades e descobrir novas razões.

Estes desconfortos obrigam a nossa mente a procurar Ovos de Colombo.
Mas esta é a postura do "trabalhar sobre pressão".

Existe também a a postura proactiva. Mais serena e planeada mas que exige muito maior nível de maturidade para se conseguir ultrapassar os mesmos obstáculos.
É a diferença entre o espírito "Strakar" e o espírito "Cool"
Sinceramente não sei qual é que me dá mais gozo. Vou aprendendo com um e com o outro.

Uma coisa sei:
Realidades diferentes são inspiração e quanto mais diferentes melhor.
Mais marcantes se revelam as amizades.
Mais sólidos se apresentam os momentos.
Mais saudades causam na nossa memória.

Aprender, aprender, aprender e ensinar.

Aos Amigos por quem tenho tido a felicidade de me cruzar dou-vos o meu abraço. A minha ajuda. O meu bem querer.

Aos outros, o meu obrigado.

terça-feira, maio 09, 2006

Retratos

Há algo de mágico na fotografia do rosto humano.
Observar fotos de pessoas estranhas é como olhar para dentro de nós próprios.
Sonhamos e vislumbramos pedaços de outras vidas, de outros mundos.

Naqueles olhares de quem está no outro lado da foto estão conquistas, percursos, expectativas e frustações, sucessos e derrotas.

Imaginar o porquê daquele rosto ali, naquele momento.
Percorrer as rugas e as expressões imortalizadas no papel.

Deixar a mente vaguear por entre sombras e contornos retratados e encontrar as mensagens que só a nós nos dizem respeito.

Em boa verdade passamos uma vida inteira a interpretar os rostos dos outros para neles encontrar o nosso.

Aqui está um bom exemplo:
http://zonezero.com/magazine/essays/diegotime/time.html

quinta-feira, maio 04, 2006

O efeito redutor do apego

O apego é egoismo
O apego é restritivo
O apego é o que comprime, que aperta e limita.

O apego sabe bem
É ele que te dá conforto.
É ele que te rodeia com pessoas e realidades conhecidas.

Mas repara, são todas do mesmo género, com os mesmos tipos de ideias, princípios ou tendências. São todas iguais a ti.

É natural que queiras, nem que seja inconscientemente, procurar níveis de conforto.
Mas experimenta tocar noutros círculos e beber das suas diversas valências.

Pode parecer que traz solidão, mas não. Torna-te um com todos.

Coloca-te numa posição em que tens que aprender, adaptar e reagir.
No fundo é aprender a colocar em evidência, a relativizar.
Acredito que com a percepção de diferentes realidades torna-se mais fácil encontrar a verdade comum.

Aprendes a não exigir, a não prender. Também aprendes a ser livre.

É no entanto interessante como é esse mesmo "Apego" que avalia no recém-nascido a sua condição física. Curioso não é?

Curioso como o recém nascido aperta os nossos dedos com todas as forças que traz.
Curioso como naquele momento em que ele nos olha nos olhos não existe mais nada no Mundo.
O tempo pára. É logo aí, nesse momento, inicia a sua aprendizagem.
Já agora, não posso deixar de dar um grande Obrigado aos filhos - pelo que nos fazem aprender.

Buda já dizia:
"A jangada é apenas um meio para atravessar para a a outra margem. Depois de lá chegares não vale a pena carregá-la às costas."

Não deixes que as tuas costas se encham de apegos.

quarta-feira, abril 19, 2006

Mordificar

Morder ao de leve
Escorregar os dentes por ti
Sentir-te em mim
Saborear

Agir e modificar
Marcar diferenças
És tu - A Vida construída a cada passo tomado
Para ti há que morder
Há que agarrar com todas as forças e modificar-te
Fazer-te minha

Mordificar, morder ou edificar
Construir e melhorar
E deliciar-se com cada etapa

segunda-feira, abril 17, 2006

Nova forma de poesia

Como seria interessante concretizar uma nova forma de poesia.
Imaginar uma nova forma de transmitir ideias sem rimas fonéticas
Sem métricas nem metáforas hiperbólicas.
Adeus aos clichés e referências a grandes pensadores.

Como seria bom conseguir escrever textos simples, cada vez mais simples, cada vez mais curtos, cada vez mais puros. Até chegar à essência.
Até se acabarem as palavras, até se esgotarem as letras, até deixar de haver tinta.

Apenas um "vvuooooossshhhh" de mim para ti.

Como seria bom conseguir transmitir sem ter que escrever, sem ter que ceder à limitação da linguagem falada ou escrita.

É bem verdade que muitos escritores transformam essa limitação numa forma de arte mas agora sinto que são as Onomatopeias que melhor retratam os dizeres.

Agora, neste momento, gostava apenas de te deixar um despertar para que ele te acorde ao teu tempo.

E a cada pessoa ser capaz de despertar novas experiências próprias.
Em vez de transmitir uma mensagem, criar uma mensagem nova a cada pessoa que lê e a cada nova leitura que faz.

Demasiado complexo ou apenas simples?

terça-feira, abril 11, 2006

Pausa para respirar

Numa pausa respira-se e alcança-se o céu
Numa pausa surge uma ideia, um conceito, um pensamento.
Numa pausa descobri uma tribo
Numa pausa..
...que agora partilho contigo.

Cada ser tem duas faces
Não existe equilíbrio se não viveres o teu lado oposto
Aquele onde guardas os teus receios e as tuas paixões
Os teus desencantos e as tuas raivas

Aprende a saborear o lado Lunar que há em ti
Aprende a compreende-lo e a vivê-lo com intensidade
Ele faz parte de ti - só com ele és um todo

É o lado que explode, que rebenta, que abre horizontes
É a tempestade que liberta - Se a ouvires desaparecem as tuas dúvidas
E depois vem a tranquilidade.

Esse lado é teu e uma vez parte de ti, partilha-o - Com a tua tribo
Só eles o aceitam - só eles compreendem o que não se vê.
São os que te amam primeiro pelo Lunar e depois pelo Solar
Os que recordam os teus defeitos com ternura.

A tua tribo - o que faz de ti imortal.


Já Rui Veloso dizia em "Lado Lunar"
"Se resistir à treva é um amor seguro
à prova de bala à prova de tudo"

You gotta be

You gotta be bad, you gotta be bold, you gotta be wiser
You gotta be hard, you gotta be tough, you gotta be stronger
You gotta be cool, you gotta be calm, you gotta stay together
All I know, all I know, love will save the day

Des'Ree
Album: I Ain't Movin'

quinta-feira, março 30, 2006

O fantasma assustado

Pobre desta alma,
que insiste em não ver
Que a forma de encontrar a calma
Está no dar, não no querer

O fantasma por si só pensa que vê coisas que os outros não veêm.
Como se não bastasse, assustado age irreflectidamente.
Não percebe que todos o veêm.
Que para todos está nu.

Nos seus joguinhos de sedução
só consegue iludir o cego
E ainda por cima este sujeito
não está na sua dimensão

O fantasma está só
Ele chora por afecto e atenção
O seu coração petrificou
Esquecido da sua grande paixão

Há que reencarnar
Há que voltar a viver
O Mundo não está cheio de leões
Apenas de bons corações

quinta-feira, março 23, 2006

Os 3 níveis da macacada

A propósito da Diferenciação que Jack Welch fala, opto por desenvolver a vertente Darwiniana dessa mesma diferenciação.

Ora vejamos:
Imagina o Homem macaco.
A este senhor animal falta-lhe a espontaneidade.
Tem um raio de acção curto, previsível e esperado.
Pauta-se por padrões já definidos. Por fórmulas comprovadas. Sem surpresas.
Ele imita os bons ou os maus exemplos - é uma fotocopiadora comportamental.
Mas falta-lhe aquela ponte de hidrogénio.
Falta-lhe aquele sal.
Falta-lhe aquele inesperado.
Corresponde aos 10% do fundo.

Depois existe o Homem chimpanzé
Senhor do seu nariz.
Suposto pensante.
Convencido de ser um grande estratega.
Imita sem se dar a conhecer.
Padece de um defeito Maior - Pensa que é melhor que o macaco.
A verdade é que não consegue mudar o triste facto de ser símio e ter as mesmas narinas grandes.
Não deixa de ser previsível mas de uma forma imprevisível.
Com técnicas mais apuradas, é certo.
No entanto, não consegue criar ovos de Colombo.
Corresponde aos 70% do meio.

E o Gorila - Nada diz. Simplesmente a vê-los passar.
Há algo de simplesmente arrebatador no olhar do Gorila.
Uma calma tempestuosa.
Uma intransigência permissiva.
Um olhar simples e eloquente.
Como se nos dissesse que é tudo fácil.
E no entanto, capaz de derrubar tudo num único sopro. Num mero desabafo.
Com dedos velhos, sábios.
Sem mágoas nem máscaras.
Apenas ele. Com essas mesmas narinas grandes que constituem agora o semblante sereno.
Apenas o respirar profundo, calmo e tranquilo.
Não há pressas. A vida está aqui.
Aqui estão os 20% de topo.

A Diane Fossey sentiu essa imensidão como ninguém.
Olhares que perscutam a nossa mente e nos despem de dilemas, de encruzilhadas ou indecisões.
Olhares de confiança.

terça-feira, março 21, 2006

Um por todos

Os nossos olhos são amadores face aos do falcão peregrino.
O nosso olfacto está resumido ao essencial.
O tacto ainda vai dando para as curvas.
O paladar tantas vezes ignorado.
A audição ensurdecida com tanta poluição.
E no entanto, porque somos a espécie com mais sucesso?

Porque somos um bom compromisso
São 5 sentidos medianos que nos tornam numa solução eficaz.
E ainda temos um trunfo imbatível - a capacidade de sociabilizar.
De partilhar problemas.
De encontrar soluções em conjunto.
De descentralizar.

A força de Um transformada na força de Mil.
Um autêntico buldozer.

É interessante o nascimento da amizade.
Como um célula a reproduzir-se.
A transmitir os seus genes.
A conquistar o seu espaço.
A viver a confiança e a fortalecer a resiliência.

sexta-feira, março 17, 2006

Sonho e realidade

A necessidade de te provares diferente parece que sai de dentro
Parece que é como uma necessidade de desabafo. Que urge
Que quer rebentar pelo peito fora como uma ansiedade
Como um sentimento que flutua ao som da música.
As portas não abrem nem fecham - não existem.

O voar, o libertar - salta e voa.
O azul.
Apetece rodopiar como um furação onde o seu olho é a tua essência, o teu âmago.
Vôo a pique -Sê Capelo Gaivota - à velocidade do impulso do neurónio.
Puxa as ondas para as tuas mãos a arrepiar... e depois a calma.

É assim - este pode ser um momento de uma vida.

E agora pergunto? Este texto parece incompreensível? Se calhar não é.

Como é que tu te permites libertar?
Nunca cantaste no carro?
Nunca te apeteceu dar um berro sem que ninguém estivesse lá para te censurar?
Permite-te. Explora o que tu és.

Porque não deitares-te no chão a contemplar as formigas se já o fizeste em criança?

Agora já não podes? Talvez.
Mas se isso acontece acredita que não são os outros que o impedem. És tu.

__________________
Vento Harmónico Branco

quinta-feira, março 16, 2006

O negociador

A negociação é uma representação da inteligência humana.
Acima de tudo da inteligência emocional.

Ser capaz de dialogar com pessoas irrascíveis.
Ser capaz de lidar com extremos opostos e fazer com que se toquem.
O chamado "jogo de cintura".

Um pouco como o virus da gripe - adaptável, mutante mas sem deixar de ser o virus que é.
Manter a integridade.

Acompanhar uma discussão acesa e garantir o equilíbrio emocional de cada interveniente, seja com reforços positivos, seja em última análise utilizando o humor como válvula de escape para voltar à carga mais tarde.

Garantir que ambas as partes ficam satisfeitas com níveis de interesse comuns.
Ser capaz de Ouvir as pessoas.
Ser capaz de defender uma tese e ter a maturidade de reconhecer e aceitar as ideias de outros.

Porque é que vizinhos rurais desatam aos tiros?
Porque é que vizinhos urbanos acabam em conflitos tortuosos e esgotantes do ponto de vista psicológico?
Porque é que existem discussões matrimoniais?
Actos de egoismo ou cobardia?

Simplesmente a incapacidade de encarar as discussoes como desafios.
Desafios para os quais precisas saber se queres aceitar ou não.

A propósito, já viste o "Negotiator" com Samuel L. Jackson e Kevin Spacey?
Para mim quem fez sombra foi o Kevin, não o Samuel.

terça-feira, março 07, 2006

Uma palavra apenas

Uma imagem vale por mil palavras
Um sentimento vale por mil imagens

Há alturas que ficamos sem palavras
Há alturas em que as palavras não estão à altura
Há alturas em que as palavras não nos permitem exprimir tudo o que há para dizer.

Como é que explicas o cheiro do teu caderno da primária?
O Perfume da tua primeira paixão ou a borboleta no estômago quando pensas nisso?

Como é que explicas o abraço forte dos teus filhos?

A verdade é que o indescritível tatua.

Talvez por isso mesmo - por ser indescritível - ou então apenas porque para esses momentos existe uma linguagem mais forte, mais tua - só tua.

Aquela linguagem "nativa" que não usa apenas a audição e a fala.

Aquela que faz de ti o que tu és e que passa para o outro lado entre palavras, no espaço que medeia uma silaba e outra mas que no fim causa por vezes coisas tão simples como:
"Não sei porquê mas gostei de o ouvir falar"

A linguagem do toque;
A linguagem do olhar;
A linguagem do cheiro ou de outro sentido qualquer.

No fundo a linguagem da tua alma - aquilo que se calhar não queres dizer mas é o que querias dizer.

A linguagem que às vezes fala português, outras inglês, outras uma língua tão rápida que nem percebes como é que te vês a "dizer" o que disseste.

A tua Palavra.

E essa Palavra é sempre sugestão para início de novos textos - novos desafios.

Demagogia

Tantos e tantos exemplos por esse mundo de pessoas válidas que insistem em perder-se em dissertações retorcidas, labirínticas e tortuosas, tangenciando o incompreensível, em tentativas vãs de elevação dos seus discursos.

Outros há que tentam com frases distintas, chavões requintados e palavras caras, dar sentido e significado a pensamentos despojados de conteúdo.

Não será mais simples colocarmos de lado os nossos mestrados, doutoramentos ou canudos de papel que o valham e de uma forma directa, concisa e objectiva pensarmos primeiro, e depois transmitirmos as nossas ideias, para que nos entendam?
Não é para isso que criámos a linguagem? Para que nos Escutem?

Discursos demasiado elaborados ou então simples mas desconexos resultam invariavelmente numa de duas situações:
Ou o ouvinte literalmente ensurdece e adormece;
Ou o ouvinte atento desilude-se com o vazio imenso de um discurso despropositado e notoriamente rabiscado à pressão, no momento em que é proferido.

Parece-me sempre mais eficaz discursos curtos e acutilantes suportando-se em metáforas ou comparativos, utilizando para tal conceitos inerentes à cultura local.


E depois veio o Agostinho Da Silva.
Simplicidade e entusiasmo numa linguagem directa e refrescante.

Não te conheci.
Não segui a tua obra.
Não sei qual é o teu percurso.
Mas uma coisa um dia eu vi – Vi o teu olhar.
E nesse momento fui aluno.

Obrigado Agostinho.