quinta-feira, março 30, 2006

O fantasma assustado

Pobre desta alma,
que insiste em não ver
Que a forma de encontrar a calma
Está no dar, não no querer

O fantasma por si só pensa que vê coisas que os outros não veêm.
Como se não bastasse, assustado age irreflectidamente.
Não percebe que todos o veêm.
Que para todos está nu.

Nos seus joguinhos de sedução
só consegue iludir o cego
E ainda por cima este sujeito
não está na sua dimensão

O fantasma está só
Ele chora por afecto e atenção
O seu coração petrificou
Esquecido da sua grande paixão

Há que reencarnar
Há que voltar a viver
O Mundo não está cheio de leões
Apenas de bons corações

quinta-feira, março 23, 2006

Os 3 níveis da macacada

A propósito da Diferenciação que Jack Welch fala, opto por desenvolver a vertente Darwiniana dessa mesma diferenciação.

Ora vejamos:
Imagina o Homem macaco.
A este senhor animal falta-lhe a espontaneidade.
Tem um raio de acção curto, previsível e esperado.
Pauta-se por padrões já definidos. Por fórmulas comprovadas. Sem surpresas.
Ele imita os bons ou os maus exemplos - é uma fotocopiadora comportamental.
Mas falta-lhe aquela ponte de hidrogénio.
Falta-lhe aquele sal.
Falta-lhe aquele inesperado.
Corresponde aos 10% do fundo.

Depois existe o Homem chimpanzé
Senhor do seu nariz.
Suposto pensante.
Convencido de ser um grande estratega.
Imita sem se dar a conhecer.
Padece de um defeito Maior - Pensa que é melhor que o macaco.
A verdade é que não consegue mudar o triste facto de ser símio e ter as mesmas narinas grandes.
Não deixa de ser previsível mas de uma forma imprevisível.
Com técnicas mais apuradas, é certo.
No entanto, não consegue criar ovos de Colombo.
Corresponde aos 70% do meio.

E o Gorila - Nada diz. Simplesmente a vê-los passar.
Há algo de simplesmente arrebatador no olhar do Gorila.
Uma calma tempestuosa.
Uma intransigência permissiva.
Um olhar simples e eloquente.
Como se nos dissesse que é tudo fácil.
E no entanto, capaz de derrubar tudo num único sopro. Num mero desabafo.
Com dedos velhos, sábios.
Sem mágoas nem máscaras.
Apenas ele. Com essas mesmas narinas grandes que constituem agora o semblante sereno.
Apenas o respirar profundo, calmo e tranquilo.
Não há pressas. A vida está aqui.
Aqui estão os 20% de topo.

A Diane Fossey sentiu essa imensidão como ninguém.
Olhares que perscutam a nossa mente e nos despem de dilemas, de encruzilhadas ou indecisões.
Olhares de confiança.

terça-feira, março 21, 2006

Um por todos

Os nossos olhos são amadores face aos do falcão peregrino.
O nosso olfacto está resumido ao essencial.
O tacto ainda vai dando para as curvas.
O paladar tantas vezes ignorado.
A audição ensurdecida com tanta poluição.
E no entanto, porque somos a espécie com mais sucesso?

Porque somos um bom compromisso
São 5 sentidos medianos que nos tornam numa solução eficaz.
E ainda temos um trunfo imbatível - a capacidade de sociabilizar.
De partilhar problemas.
De encontrar soluções em conjunto.
De descentralizar.

A força de Um transformada na força de Mil.
Um autêntico buldozer.

É interessante o nascimento da amizade.
Como um célula a reproduzir-se.
A transmitir os seus genes.
A conquistar o seu espaço.
A viver a confiança e a fortalecer a resiliência.

sexta-feira, março 17, 2006

Sonho e realidade

A necessidade de te provares diferente parece que sai de dentro
Parece que é como uma necessidade de desabafo. Que urge
Que quer rebentar pelo peito fora como uma ansiedade
Como um sentimento que flutua ao som da música.
As portas não abrem nem fecham - não existem.

O voar, o libertar - salta e voa.
O azul.
Apetece rodopiar como um furação onde o seu olho é a tua essência, o teu âmago.
Vôo a pique -Sê Capelo Gaivota - à velocidade do impulso do neurónio.
Puxa as ondas para as tuas mãos a arrepiar... e depois a calma.

É assim - este pode ser um momento de uma vida.

E agora pergunto? Este texto parece incompreensível? Se calhar não é.

Como é que tu te permites libertar?
Nunca cantaste no carro?
Nunca te apeteceu dar um berro sem que ninguém estivesse lá para te censurar?
Permite-te. Explora o que tu és.

Porque não deitares-te no chão a contemplar as formigas se já o fizeste em criança?

Agora já não podes? Talvez.
Mas se isso acontece acredita que não são os outros que o impedem. És tu.

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Vento Harmónico Branco

quinta-feira, março 16, 2006

O negociador

A negociação é uma representação da inteligência humana.
Acima de tudo da inteligência emocional.

Ser capaz de dialogar com pessoas irrascíveis.
Ser capaz de lidar com extremos opostos e fazer com que se toquem.
O chamado "jogo de cintura".

Um pouco como o virus da gripe - adaptável, mutante mas sem deixar de ser o virus que é.
Manter a integridade.

Acompanhar uma discussão acesa e garantir o equilíbrio emocional de cada interveniente, seja com reforços positivos, seja em última análise utilizando o humor como válvula de escape para voltar à carga mais tarde.

Garantir que ambas as partes ficam satisfeitas com níveis de interesse comuns.
Ser capaz de Ouvir as pessoas.
Ser capaz de defender uma tese e ter a maturidade de reconhecer e aceitar as ideias de outros.

Porque é que vizinhos rurais desatam aos tiros?
Porque é que vizinhos urbanos acabam em conflitos tortuosos e esgotantes do ponto de vista psicológico?
Porque é que existem discussões matrimoniais?
Actos de egoismo ou cobardia?

Simplesmente a incapacidade de encarar as discussoes como desafios.
Desafios para os quais precisas saber se queres aceitar ou não.

A propósito, já viste o "Negotiator" com Samuel L. Jackson e Kevin Spacey?
Para mim quem fez sombra foi o Kevin, não o Samuel.

terça-feira, março 07, 2006

Uma palavra apenas

Uma imagem vale por mil palavras
Um sentimento vale por mil imagens

Há alturas que ficamos sem palavras
Há alturas em que as palavras não estão à altura
Há alturas em que as palavras não nos permitem exprimir tudo o que há para dizer.

Como é que explicas o cheiro do teu caderno da primária?
O Perfume da tua primeira paixão ou a borboleta no estômago quando pensas nisso?

Como é que explicas o abraço forte dos teus filhos?

A verdade é que o indescritível tatua.

Talvez por isso mesmo - por ser indescritível - ou então apenas porque para esses momentos existe uma linguagem mais forte, mais tua - só tua.

Aquela linguagem "nativa" que não usa apenas a audição e a fala.

Aquela que faz de ti o que tu és e que passa para o outro lado entre palavras, no espaço que medeia uma silaba e outra mas que no fim causa por vezes coisas tão simples como:
"Não sei porquê mas gostei de o ouvir falar"

A linguagem do toque;
A linguagem do olhar;
A linguagem do cheiro ou de outro sentido qualquer.

No fundo a linguagem da tua alma - aquilo que se calhar não queres dizer mas é o que querias dizer.

A linguagem que às vezes fala português, outras inglês, outras uma língua tão rápida que nem percebes como é que te vês a "dizer" o que disseste.

A tua Palavra.

E essa Palavra é sempre sugestão para início de novos textos - novos desafios.

Demagogia

Tantos e tantos exemplos por esse mundo de pessoas válidas que insistem em perder-se em dissertações retorcidas, labirínticas e tortuosas, tangenciando o incompreensível, em tentativas vãs de elevação dos seus discursos.

Outros há que tentam com frases distintas, chavões requintados e palavras caras, dar sentido e significado a pensamentos despojados de conteúdo.

Não será mais simples colocarmos de lado os nossos mestrados, doutoramentos ou canudos de papel que o valham e de uma forma directa, concisa e objectiva pensarmos primeiro, e depois transmitirmos as nossas ideias, para que nos entendam?
Não é para isso que criámos a linguagem? Para que nos Escutem?

Discursos demasiado elaborados ou então simples mas desconexos resultam invariavelmente numa de duas situações:
Ou o ouvinte literalmente ensurdece e adormece;
Ou o ouvinte atento desilude-se com o vazio imenso de um discurso despropositado e notoriamente rabiscado à pressão, no momento em que é proferido.

Parece-me sempre mais eficaz discursos curtos e acutilantes suportando-se em metáforas ou comparativos, utilizando para tal conceitos inerentes à cultura local.


E depois veio o Agostinho Da Silva.
Simplicidade e entusiasmo numa linguagem directa e refrescante.

Não te conheci.
Não segui a tua obra.
Não sei qual é o teu percurso.
Mas uma coisa um dia eu vi – Vi o teu olhar.
E nesse momento fui aluno.

Obrigado Agostinho.

quinta-feira, março 02, 2006

Pelicano

Assisti ontem a um espectáculo degradante de um Pai que tentava ensinar o seu filho a ser guarda-redes.
Foi triste ver um homem a insultar o seu filho numa tentativa vã de transformá-lo num bom guarda-redes.

Para já este homem não merece ser chamado de "Pai" - talvez "pai" sem o P maiúsculo porque para mim, nesse momento, esse homem só era pai biológico - mais nada.

Para mim, nesse momento vi uma sombra de homem, revoltado com a sua vida e com a sua barriga que descarregava as suas frustrações no seu filho que por seu lado perdia a olhos vistos o seu gosto pelo futebol.

Fiquei sem saber quem era a criança e quem era o homem.

Em contraponto relembro o carácter do Pelicano.
O Pelicano é um animal que, quando não consegue alimento para seus filhotes, amamenta-os com o próprio sangue e carne.

Dá que pensar e dá também para perceber que toda a inteligência de um homem é colocada em causa quando confrontada com as raízes da sua Natureza.





Esta criança merecia aprender com o Pelicano.

quarta-feira, março 01, 2006

E=mc2

Relativizar é dos melhores exercícios que se podem fazer.
É a golfada de ar da Baleia que vem à superfície após 20 minutos de tranquilidade.

É importante relativizar.
Quando estás no limite das tuas forças e sentes o suor a escorrer pelas canelas é natural que penses que podes ser o melhor do Mundo - diria que é natural - é a explicação para tanto esforço. No fundo és só mais um que luta e que está cá para aprender mais uma vez.

Podes sempre relativizar com temas como a Etiópia, Madagáscar ou Haiti. E depois?
É tão distante que não te toca efectivamente.
Se calhar vale a pena relativizar com o teu "colega de carteira"
Ou quem sabe com o teu Pai. Que tal?
Pensar por exemplo quais as questões com que o teu Pai se debatia quando tinha a tua idade.
E pensar também que para ti, nessa altura, ele era simplesmente o Maior.
Tal como os teus filhos pensam isso de ti agora.

Relativizar é saudável.

Vendo bem as coisas a fórmula E=mc2 pode ser interpretada como uma forma diferente de ver a vida. Julgo que esta fórmula tem propriedades comutativas.
Tal como Einstein disse que se viajássemos à velocidade da luz o tempo parava, também considero que se o tempo parar, viajamos à velocidade da luz.

Um exemplo:
Experiências de Quase Morte - o tunel escuro, a luz brilhante, o cérebro em colapso ou a passagem para outra vida? pergunto se isto não é viajar à velocidade da luz?
Tudo se passa num momento. Num ínfimo espaço de tempo, tão ínfimo que quase para.

No fundo, se dividíssemos o nosso dia em ínfimas partes veríamos que talvez é possível preencher os espaços vazios encontrados com experiências com significado - com conteúdo.

Diria que o desafio é dantesco.
Aceitas?